quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESPECIAL: INFRAESTRUTURA INSUFICIENTE ESTÁ ENTRE OS PRINCIPAIS GARGALOS DOS TRANSPORTES DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

ESPECIAL: Infraestrutura insuficiente está entre os principais gargalos dos transportes da Região Metropolitana de Curitiba Gerenciadora do Governo do Paraná destaca forma de crescimento populacional das cidades vizinhas à Curitiba e necessidade de resgate da demanda para o transporte coletivo ADAMO BAZANIO sistema de transporte coletivo de Curitiba se tornou conhecido mundialmente e inspirou diversos países a adotarem modelo semelhante,principalmente com os BRTs – Bus Rapid Transit, que são serviços de ônibus de maior demanda e velocidade que os de ônibus comuns em corredores exclusivos. Avantagem destes sistemas são os custos e o tempo de implantação relativamente baixos em relação a outros modais de transportes.Entretanto, a questão da mobilidade no sistema vai muito além dos BRTs e da própria capital paranaense.O transporte metropolitano, cuja rede atende a mais de 500mil passageiros todos os dias em 19 cidades (incluindo a capital), enfrenta grandes desafios típicos da maior parte das áreas metropolitanas de todo País.A maioria dos 18 municípios vizinhos à capital atendidos atualmente por 19 empresas de ônibus não passa de cidades dormitórios e a demanda pendular, de milhares de pessoas pela manhã indo à capital e à noite voltando para as suas casas ao mesmo tempo consegue revelar grandes gargalos que ajudam a explicar a queda de demanda de passageiros do transporte coletivo e o fato de os serviços ainda não satisfazerem plenamente à população.O site especializado em mobilidade Diário do Transporte esteve naúltima semana em Curitiba e em cidades vizinhas.O CEO (diretor executivo) da Associação Metrocard, que reúne as 19 empresas metropolitanas, Ayrton Amaral, destacou com um dos gargalos do sistema a questão da infraestrutura dedicada ao transporte público que é insuficiente para a demanda e para uma das principais exigências dos passageiros: rapidez.“O principal gargalo em diversos sistemas do país, e aqui na região metropolitana de Curitiba não é de diferente, é basicamente a infraestrutura. Para ter sucesso na mobilidade, o ‘jogo’ é a rapidez. E a rapidez só acontece quando há prioridade semafórica, quando há vias exclusivas,quando existem obras de artes (pontes, viadutos, passagens subterrâneas) para superar obstáculos onde não é possível ter priorização semafórica. É fundamental terminais de linhas troncais que permitam que os passageiros tenham um ambiente adequado e seguro. Se a gente olhar para qualquer lado, caímos novamente na questão da infraestrutura” – disse Aytron. O sistema de vias da capital paranaense na região onde passam os corredores é classificado como “trinário”. Foi com base neste planejamento que a região central se desenvolveu. No “centro” deste eixo de vias, estão as chamadas canaletas,que são os corredores exclusivos com as famosas estações-tubo, onde os passageiros embarcam e desembarcam no mesmo nível do assoalho dos ônibus. Logoao lado, estão as chamadas vias lentas ou vias calmas, com limite de velocidade menor, como em torno de 30 km/h, e servem para acesso a estabelecimentos comerciais e escritórios na região dos corredores. Paralelas a estas vias,estão as vias com tráfego comum.São 92 km de corredores centrais e 6,8 km de faixas para ônibus predominantemente à direita.Ocorre que esta infraestrutura está concentrada em Curitiba,onde moram em torno de 1,9 milhão de pessoas, de acordo com a mais recente estimativa do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.Na região metropolitana de Curitiba, há mais 1,5 milhão demoradores e, nas cidades vizinhas à capital, praticamente não há infraestrutura para deixar o transporte coletivo mais rápido.O presidente da Comec – Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba, gerenciadora do Governo do Estado do Paraná, Gilson Santos,destacou outra questão típica de áreas metropolitanas brasileiras que influenciam no atendimento dos transportes: as cidades vizinhas das capitais que servem apenas de dormitório têm poucas atividades econômicas, forçando cansativos movimentos pendulares da população que tem que se deslocar muito para trabalhar. São assuntos alheios ao transporte que influenciam na operação dos sistemas em todo o País.Gilson citou o exemplo de Fazenda Rio Grande, cidade a cerca de 30 km da capital. Apesar de o município ter recebido nos últimos anos investimentos, inclusive de fábricas e grandes estabelecimentos comercias, o número de novos loteamentos na especulação imobiliária registra um crescimento vertiginoso.Há dez anos, a cidade tinha menos de 90 mil moradores, hoje são em torno de 140 mil. Se as taxas de crescimento populacional continuarem no mesmo padrão atual, o que deve ocorrer, em dez anos, a cidade de Fazenda Rio Grande terá 250 mil pessoas.Segundo Gilson Santos, atualmente, 30 mil pessoas se deslocam de ônibus todos os dias de Fazenda Rio Grande para a Curitiba, retornando no fim do dia. É a maior demanda individual metropolitana ao lado da cidade de Colombo. E não há corredores entre Curitiba e Fazenda Rio Grande,apesar do prolongamento previsto, mas ainda sem data, da Linha Verde (BRT) da capital para o município.A ligação entre Fazenda Rio Grande e Curitiba também reúne uma característica comum na Região Metropolitana: o principal caminho é por rodovia: a BR 116 – Rodovia Regis Bittencourt. São comuns acidentes,principalmente com caminhões, que travam a rodovia. Não há caminhos alternativos curtos e rápidos.Mesmo com a duplicação da BR, o transporte público, sem prioridade, fica vulnerável a todas estas situações que comprometem a velocidade e o cumprimento de horários.Apesar disso, de acordo com dados do CCO – Centro de Controle Operacional da Metrocard, a Leblon Transporte, empresa que faz a ligação, é uma das que possuem maior índice de cumprimentos de horários, em torno de 80%.O coordenador de tráfego da empresa de ônibus, Nabor deAnunciação, aponta o trânsito, decorrente da falta de prioridade ao transporte público e o crescimento desordenado como o principal problema que impacta avida de quem precisa se deslocar na região.“Fazenda Rio Grande é uma cidade diferenciada, é umas das cidades onde mais a população cresce em todo o País. Estamos acompanhando diariamente as linhas para evitar a superlotação. Quando acontece obra na BR[BR 116, rodovia Regis Bittencourt] nós passamos por muito transtorno e quem sofre com isso é o passageiro. A cidade de Fazenda Rio Grande não foi projetada. Eram sítios cujas estradinhas deles viraram ruas. Hoje nós temos ruas estreitas, nós temos um gargalo na Avenida Brasil com os sinaleiros [semáforos].Muito automóvel, tanto da BR como dentro da cidade. Se não for feito nada,daqui um tempo a cidade vai parar” – disse Nabor que relatou ainda que até quando um supermercado faz promoção, o centro de Fazenda Rio Grande trava.O presidente da Comec, Gilson Santos, disse que o principal desafio hoje do transporte coletivo metropolitano é fazer com que os serviços tenham rapidez, mesmo competindo com o carro. Só assim é que o transporte público se tornaria atrativo.“A gente sabe que o usuário que, por vezes, utiliza o transporte coletivo é a pessoa que mais precisa e que tem no seu dia a dia a necessidade de chegar do ponto A ao ponto B da forma mais rápida possível. Nós temos enfrentado este desafio, já que o ônibus está competindo com os veículos individuais e que nós não temos a atenção, seja do Governo Federal e de outros órgãos públicos, que foi dada no passado recente ao transporte individual”, disse Gilson que garante que por parte da gestora pública estão sendo tomadas algumas ações, como a criação de faixas para ônibus.



Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes.

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